os pormenores que contam #6, por ssru

Ao ‘desfolhar a revista rosa’ da sala de espera do dentista somos “informados” que um novo Rei subiu ao trono no País vizinho, o caso de El-rei D. Filipe VI, legitimo representante da renovada Casa dos Bourbon. Esta glamorosa “notícia” retardada de Junho inspira-nos para o nosso próximo artigo, remetendo-nos para três homónimos antepassados, mais propriamente Filipe II, seu filho Filipe III e seu neto Filipe IV de Espanha, estes da Casa dos Habsburgo, que governaram a coroa portuguesa num período que se estendeu desde 1580 até ao ano de 1640, o chamado domínio filipino.

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Não pretendemos neste artigo contar a História de Portugal, ou expor a nossa interpretação dos acontecimentos, muito menos fazer julgamentos ou enaltecimentos nacionalistas que nos levaram a libertar do jugo da coroa vizinha. Facto indesmentível é que os espanhóis eram em maior número que os portugueses e mais viajados que nós, por isso mesmo mais cultos e com mais conhecimentos e comprova-se que ainda é assim. E de certa forma esse conhecimento esteve ao nosso dispor naquele período por opção dos Reis de Espanha que com isso obtinham o nosso contributo para o desastroso esforço de guerra dos Filipes contra o resto do Mundo.

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A “bandeira da saúde” representa uma das inovações introduzidas pelos viajados reis espanhóis e servia, como sabem, para regular a entrada dos navios que subiam o Rio Douro, cujos ocupantes apenas podiam tocar terra firme após o exame sanitário e despiste da peste que grassava pela Europa. Entendam este conjunto formado pelo pilar de granito e restantes elementos como um símbolo da alta tecnologia da época e que nós sabiamente soubemos conservar até hoje para Memória futura.

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Reduzindo isto ao pormenor e à significância que dá título a este artigo, interessa analisar o cuidado que tem sido colocado no tratamento deste pilar e como é óbvio, o cuidado com que é tratada a envolvente, um miradouro privilegiado sobre a margem e o rio, sobre as construções ribeirinhas e sobre a foz do Douro. Acrescente-se a sorte de ter como vizinha a casa dos Cunha Portocarrero, construída século e meio depois porque para o caso tem tudo a ver com este assunto.

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Senão vejamos: a morfologia da Rua da Bandeirinha, cujo topónimo se deve à “bandeira da saúde”, torna difícil a existência pacífica dos elementos urbanos modernos como o mobiliário, os contentores de resíduos e sobretudo os equipamentos de iluminação dos edifícios públicos de interesse como é o caso do Palácio das Sereias, dado tratar-se de uma via de traçado irregular. Compete aos técnicos e aos decisores optarem por soluções cujos impactes negativos se revelem menos gravosos para o bem que se pretende preservar ou valorizar, sem dúvida, tendo em conta uma escala de prioridade. E desse modo percebe-se que seja dada prioridade à rua e aos seus edifícios incomuns que estão no topo da lista, logo seguidos dos restantes elementos como o miradouro, a bandeirinha da saúde, os muros que ladeiam a via e menos – porque ninguém dá qualquer importância – os tramos de pavimento com calçada à portuguesa (a única e verdadeira).

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Por isso a pergunta que colocamos às “meninas do GAEEP”, é: seria possível a iluminação nocturna do Palácio das Sereias sem que aquele poste, medonho com os holofotes, conflituasse com a Bandeirinha da Saúde? A resposta é “claro que sim!” Que raio, afinal estamos no século XXI, em plena revolução tecnológica. O problema não é só o poste luminoso; é tudo aquilo que para lá foi colocado e tudo o resto que lhe faz falta; é aquela sensação de mal-estar; de descuido negligente; da guiazinha de passeio quando o que faz falta é estadia; do ecopontozinho em vez de limpeza e espaço livre; a preocupaçãozinha de regular os pavimentos com microcubo substituindo a calçada portuguesa, típica de uma via de traçado medieval (embora aberta na era moderna); o iluminar um palácio esplendoroso, mas que permitiram as freirinhas substituir a tradicional caixilharia de guilhotina em madeira, por alumínio com os tafifezinhos no interior do vidro duplo, a imitar o antigo, a dar-lhe a “traça”. E o elemento armilar da bandeira, todo tordo… que parece que vai rolar pela encosta abaixo!

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O poste lumínico, cuja única razão de existir é mostrar sem se mostrar, ali permanece como se de uma grande peça histórica se tratasse, a exigir de todos um poder de abstracção tão grande como o próprio palácio que pretende tão defectivelmente iluminar. Vejam os dotes contorcionistas do operador de câmara de Germano Silva, ao tentar escondê-lo, quando nos conta a história pouco ortodoxa do Palácio das Sereias.

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