A dura realidade parece ter a sua confirmação pela ‘pena’ do próprio Hard Club, na pessoa do seu Director de Produção e nosso amigo, Pedro Lopes. Vamos lê-lo:
“Cara SSRU, Relativamente ao vosso artigo publicado em 31/07/2009 com o título “a tolerância zero#5”, cumpre-me informar o seguinte: dos 28 painéis que compõem o interior do Mercado Ferreira Borges, apenas 7 mantinham os azulejos originais do século XIX. Os restantes 21 painéis, executados aquando da recuperação do edifício em 1983, não possuíam qualquer valor patrimonial, conforme podem verificar na fotografia em anexo (imagem 1). Dos 5 painéis originais, e dado o avançado estado de degradação em que se encontravam (imagem 2), optou-se por preservar e salvaguardar algumas peças para identificação e registo (imagem 3).
Ainda na sequência das indicações dadas pelo Departamento de Museus e Património Cultural da Câmara Municipal do Porto, estas peças, juntamente com o levantamento fotográfico efectuado, estarão confiadas ao Banco de Azulejos instalado junto da Casa Tait. A este propósito, posso ainda adiantar que os revestimentos cerâmicos que irão ser aplicados nos 263,2 m2 de paredes do interior do Mercado Ferreira Borges, não serão cinzentos, nem pretos, mas sim vermelhos com chacota e vidrado manual, e de dimensões variadas. As juntas serão tratadas com pasta de cimento branco e aditivo de cor a determinar através da aplicação de diferentes corantes num painel de ensaio. Se desejarem obter qualquer outra informação relativa ao processo de Recuperação e Adaptação do Mercado Ferreira Borges, estejam inteiramente à vontade para me contactar. Com os melhores cumprimentos, Pedro Lopes”
Obrigados Pedro. Ou seja, 25% dos painéis eram originais, os restantes 75% correspondiam à reposição em cópia feita pelo CRUARB aquando da remodelação a que o edifício foi sujeito em 1983, mantendo a IDENTIDADE do espaço, que lhe é proporcionada pela leitura das paredes revestidas com aquele tipo de azulejo, aquela estereotomia, aquelas cores, as dimensões das peças, etc. Com esse simples gesto o CRUARB manteve ainda (pelos vistos com alguma dificuldade) a MEMÓRIA do espaço, independentemente das funções que lhe foram atribuídas, diversas e diferentes das primitivas, funcionando ultimamente como espaço plurifuncional e não como mercado.
Sobre a sua plurifuncionalidade muitas têm sido as vozes que dizem que o Mercado estava abandonado e não servia para nada, mas quem aqui vem sabe que isso é falso. Muitas eram as feiras, as exposições, as passagens de modelos, as mostras de design e muito mais que lá acontecia. Se o seu aproveitamento não era eficaz isso só é devido à CMP.
Para além das promessas (não cumpridas) de não mexer nas paredes do classificado edifício, não encontramos qualquer texto publicado onde fosse notória a intenção do promotor retirar os azulejos das paredes interiores do mercado, antevendo a presente situação.
E porquê retirar azulejos quando a proposta é… colocar azulejos? Vermelhos com chacota e vidrado manual e de dimensões variadas (?) ? Para nós não faz sentido e já sabem o que pensamos sobre o “propor melhor” (… está intimamente ligado à capacidade de quem propõe, à qualidade da proposta e à qualificação de quem avalia)!
Causou-nos má impressão que tivessem vindo a terreiro criticar o IGESPAR [Público 11-04-2009], sobre a sua demora em apreciar o projecto, pois sabemos que existem outras formas de resolver esse tipo de assunto, que não na praça pública. Aliás, se a CMP tivesse tido a preocupação de consultar aquele organismo da administração central antes de partir para o concurso, as garantias de rapidez na apreciação dos processos estavam asseguradas.
Na resposta do Pedro não é perceptível o momento em que a Divisão de Património Cultural foi chamada a dar indicações de recolha dos azulejos na Casa Tait, mas perante as circunstâncias somos impelidos a acreditar que o serviço camarário foi colocado perante um facto consumado e nessa evidência mais não fez que minimizar os danos. O que a ser correcto significa que não pediram autorização a ninguém, sobretudo ao proprietário, para avançar com a alteração! Acrescentamos que não nos parece ser prática corrente da Porto Vivo consultar os serviços camarários para os processos urbanísticos que tem a seu cargo, sobretudo por constituírem uma ‘areia na engrenagem’, o que explica terem sido ‘chamados’ para o Mercado, apenas por este ser de responsabilidade camarária.
Não nos incomoda tanto se os vidros foram retirados (esperemos que não assim) porque sabemos pelas apresentações do projecto que não existe outra alternativa, vidro é vidro (mais ou menos!), nem reparamos se a cor dos metais é um vermelho mais aberto e brilhante que o anterior, mas… caramba, porquê deixar cair a nódoa neste pano, quando apenas 20% dos azulejos vai ficar ‘à vista’ com a implantação dos novos volumes?
Como dizia um grande artista português, não havia necessidade! Esperamos que tudo fique por aqui…
Contudo, estamos certos que saberão que nos encontram de pé, numa ovação geral ao vosso esforço e contribuição para o desenvolvimento do Centro Histórico do Porto.