Quando há um ano atrás sugerimos a realização da Feira do Livro nos jardins da Cordoaria (contrariando os argumentos daqueles que nos acusam de só criticarmos sem propor), sabíamos que a sua implementação não seria imediata. Nada muda assim tão rápido, sobretudo se os responsáveis pela sua instalação não se derem ao trabalho e à grandeza de mudarem de opinião. O que nem sempre é fácil, senão atente-se ao que Rui Rio declarou após a sua descida pela Avenida, na inauguração: “(…) A Feira do Livro na Avenida dos Aliados ajuda a reabilitar a Baixa da cidade”, salientou Rui Rio, acrescentando: “ajuda no que a cidade tem de maior valor que é esta zona nobre da cidade. Também a configuração que a Avenida dos Aliados tem agora permite que a Feira do Livro se realize aqui (…)”. Ainda que reconhecendo as nossas limitações mentais, não conseguimos entender porque razão a feira “ajuda a reabilitar a Baixa, no que a cidade tem de maior valor” (?) e que outra zona nobre da Baixa, como os jardins da Cordoaria, não o possa fazer, com benefícios exponencialmente melhores.
Para lá de todos os pontos negativos que enumerámos no artigo anterior, gostaríamos de pegar no interesse que o Dr. Rui Rio demonstrou pelo Turismo da cidade e frisar que:
– os turistas comentam que a avenida parece um terminal enfeitado de contentores, para o qual contribui o facto de estarem fechados para dentro;
– eles não se deslocam à cidade pela feira do livro, mas pela sua festa maior – o S. João – que tem sido paulatinamente desprezada e maltratada por este executivo, numa clara demonstração de incultura popular (daí talvez as iniciativas privadas!?);
– são escassos os turistas que vemos todos os dias a deambular pela feira, o que significa que os utentes somos nós, que mais depressa estamos no jardim a ler um livro numa sombra, do que na avenida a arder de calor;
– a coincidência de calendários deveria fazer perceber que as prioridades se encontram trocadas, pois na festa ‘mayor’ da cidade a avenida encontra-se ainda em estaleiro da desmontagem dos contentores.
Para os utentes, a instalação feita este ano veio ainda agravar as más condições do ano passado, uma vez que a mobilidade foi premeditadamente prejudicada:
1. O auditório tapa totalmente a visibilidade da passagem de peões da Praça da Liberdade, aos automobilistas;
2. A passadeira seguinte, a de Sampaio Bruno, tem uma ‘muralha’ tão próxima que parece impossível tamanha tolice;
3. O espaço que sobra entre os contentores e as vias de trânsito é bem menor e está ocupado com outro tipo de contentores, os do lixo;
4. É precisamente para este espaço mencionado antes, que desaguam as saídas de emergência dos “mega-editores”, que em caso de sinistro dá para antever a catástrofe, dada a falta de condições e a velocidade dos automóveis que circulam nas vias adjacentes;
o valor de uma saída de emergência, para certos indivíduos...
5. O estacionamento selvagem diariamente efectuado junto à feira não ajuda à segurança e mobilidade dos peões, mas eis que, ao fundo se vê um carro da polícia, acabadinho de passar e nada fazer.
Não sabemos como é que se decidem estas coisas, quem impõe e quem cede, quem oferece ou quem recebe em troca, pelo que não imaginamos se o Jardim da Cordoaria e a Praça que o liga à Reitoria, alguma vez foram uma opção válida para quem decide. A verdade é que, em nossa opinião, a Cordoaria parece ter tudo para resultar. Quanto mais não fosse, só pelo facto da avenida ser um braseiro em dias de sol, por todas as suas superfícies graníticas reflectirem de forma acentuada o calor e as árvores jovens não servirem para quase nada.
Como, para já, apenas podemos lamentar, juntamos ao lamento estas duas citações que estão gravadas num contentor da feira, na esperança de nos podermos refrear ou, antes, que nos libertemos definitivamente desta caixa de Pandora onde vivemos.