O Centro Histórico do Porto é Património da Humanidade há 18 Anos!
A cidade do Porto desenvolve-se sobre as colinas que dominam o estuário do rio Douro e forma uma paisagem urbana construída numa história já milenar em que a diversidade da arquitectura civil e religiosa testemunha o percurso de um Centro Histórico que remonta às épocas Romana, Medieval, Renascentista, Barroca e Neoclássica.
Construído sobre terrenos acidentados numa feliz articulação do traçado orgânico de arruamentos e casario com o rio referencial, o Centro Histórico adquire um valor panorâmico singular, reforçado na profusão de monumentos como a Sé Patriarcal, a Igreja de Santa Clara ou o edifício da Bolsa.
Classificado como Património Mundial desde 1996, o Centro Histórico do Porto encerra uma riqueza monumental e paisagística e capta a diversidade de soluções de concepção urbana das cidades da Europa Ocidental e Atlântico-Mediterrâneas da época medieval aos inícios da modernidade. (DGPC)
Esta é a breve descrição que consta do relatório da comissão que aprovou a inscrição do Centro Histórico do Porto na Lista de Sítios Património da Humanidade da UNESCO. Mas como vocês sabem, este lugar consegue ser muito mais do que isto. Esta é a nossa casa, estas são as nossas ruas e estes são os nossos bairros, este é o nosso porto do mundo.
Pedimos a colaboração de todos aqueles que quisessem enviar-nos o que sentem sobre o CHP, para assinalar a passagem do 18º ano da inclusão deste núcleo histórico no restrito grupo de Bens Comuns do Mundo. O que aqui vem é o reflexo daquilo que também nós sentimos. Um desperdício quase total, um desinteresse generalizado dos portuenses para os valores patrimoniais da sua própria cidade!
I
histéricos assentes no centro histórico, pânico por tudo o que supostamente crie emprego, forçosamente bom se criar emprego, ainda melhor se criar emprego! “bora lá criar emprego?”
II
fachadas ao alto e fé em deus, encham-me aí duas dúzias de quarteirões de betão armado, “olhá jessica fresquiiiiiiiiiiiinha”, é pra hoje, é pra hoje ó freguesa, anda hoje à roda o crime das cardosas
III
a imagem, oh a imagem: tudo pela imagem, nada contra a imagem para a economia deles, mesmo que ainda e sempre mau para a economia destes,
a sopa dos pobres servida na rua claro é um fenómeno do lusco-fusco porque é melhor para a imagem
IV
tragédia da rua das flores, street-artists flores na lapela, reciclagem para função pública, artes decorativas oh yeah, mais vale uma parede bem pintada que um edifício bem reconstruído
V
mui nobre e sempre leal, cidadania e boas famílias, independente dos dependentes, criticar é que era bom,” então e a imagem, filho? “…então e a imagem da cidade? Olha que isso não é bom para a imagem da cidade, temos que dar uma boa imagem da cidade! troika ou turistas começa tudo por tê e vai tudo dar ao mesmo no que à imagem diz respeito
VI
auto – prémios, selfie – galardões e água benta, cada um pega os que quer, cardosas crime com galardão imobiliário, ponto
VII
os rankings e o rancor, país do melhor povo do mundo, cidade do melhor centro histórico, melhor arquitectura, melhores arquitectos, melhor faculdade, melhor emigração forçada, melhor desperdício de recursos, melhor fuga de arquitectos afinal, tão bons que nem aguentámos ser tão bons, melhor desperdício de tempo, melhor desperdício de presente, de futuro, de dinheiro, eu sei lá, é tudo tão bom
VIII
reabilita low-cost filho, reabilita, olha que nem sempre arranjas mão-de-obra de graça, materiais à borla e terreno a custo zero
IX
bicicletas de montra, na montra e às portas da montra das lojas atraem turistas -tipo-gourmet
impossível andar em duas rodas nesta montanha russa que é o porto, diz a vox-populi em cada eleição ,”mas só se não fores turista”, eles conseguem sempre, vá lá saber-se como nós é que não
X
“Touristic buses don´t fit in the narrow streets of the historical center”, objectivo de vida será ter tudo e ao mesmo tempo: barcos cruzeiro, sightseeing buses, os hotéis, o disney colonial park. O jogo do Monopoly a cores e ao vivo! Esperaste tu duas horas pelo 703 da STCP agora vendida a alguém, enquanto passaram 10 sightseeing buses e desesperado entraste num: “era prá areosa fáxabor!” “ excuse-me, but areosa´s not in tha histerical center. Please, mister, must gett off this bus!” E foste para casa a praguejar á moda do porto em cada vírgula.
XI
contas feitas, casa desarrumada, praça da batalha à moda do porto, menos dois cinemas, mais quatro hotéis dá quase conta certa: para já está 4:2, muito hotel para pouca uva
cada quatro hotéis, cada posto de trabalho low cost, contratos para quê? direitos são maus para a economia, e , oh, precisamos tanto de novos-bancos, esquece essa merda.
XII
centro histórico do porto em geral, cidade do porto em particular, sem ponto: reabilitem-no porra! e electrifique-se as escadas da lello, instale-se elevadores na torre dos clérigos.” Então esse nasoni, tão bom arquitecto e não pensa nestas coisas?” do turismo e assim? olhá imagem, pá!
Pedro Figueiredo, arquitecto
Continuamos receptivos aos vossos contributos, esperando contar com os sentimentos (sejam eles quais forem) de todos vocês sobre o CHP, todos nós portanto, mas de uma forma muito simples. Pedimos a todos que enviem uma palavra, frase, poema, discurso (?), fotografia, vídeo, música, desenho, etc., o que acharem bem.