a cidade dos que se importam, por ssru

Poderão vocês imaginar tal diálogo do nosso autarca: “Lídia, querida, anda comigo ali ao Centro Histórico, para veres as maravilhas que andei a fazer durante estes 11 anos do meu reinado” – É bem provável que não possam, pois nós também não! E se Rui Rio também não o propõe aos seus convidados, que com ele comemoraram , o mês passado, a classificação do CHP como Património da Humanidade, entre quatro paredes do edifício da Câmara Municipal, é porque do mesmo modo a estes lhes pareceria bizarro.

As razões porque este executivo não tem obra para mostrar para além do fachadismo, saem da boca do seu próprio presidente, nestas palavras casmurras e, mesmo até, ignorantes e paradoxais: “a classificação do Centro Histórico da cidade como Património da Humanidade, em 1996, foi “uma herança positiva” que o seu executivo recebeu em 2001. Contudo, foi necessário alterar o modelo que era seguido até então, muito dependente do financiamento público. “O primeiro desafio” foi, pois, alargar o âmbito geográfico da intervenção à Baixa portuense, que “integra o centro Histórico, mas vai muito mais além”. O Presidente da Câmara Municipal do Porto falava no encerramento da cerimónia comemorativa dos 16 anos da classificação do Centro Histórico como Património Cultural da Humanidade, atribuída pela UNESCO, em 1996.

Ora, como vocês se lembram estas palavras teimosas que Rui Rio vai repetindo até à exaustão para ver se convence alguém mais, para além de si próprio, tiveram a crítica perfeita no manifesto das comemorações do 11º aniversário da classificação da UNESCO, por um grupo de “Cidadãos do Porto – Sociedade Aberta”, em 2007: “(…) o Centro Histórico do Porto resiste heroicamente às agressões das intempéries, às malfeitorias de muitos, ao desinteresse de outros, ao esquecimento e ao obscurantismo que procura embrulhá-lo, banalizá-lo e dissolvê-lo numa Baixa que é sua parte e sua protecção.”

Perceberam? Foi isto que determinou o fracasso da aposta do Dr. Rui Rio na sua tão propalada “reabilitação urbana da baixa portuense e do seu centro histórico”. Colocando o CHP à mercê de comparações e modos de intervir num território diferente do seu e que o envolve mas que não o embrulha; permitindo que as intervenções insultuosas em matéria de salvaguarda dos valores patrimoniais estivessem ao nível da construção digna de um banal subúrbio ou lugarejo satélite do Porto; fazendo premeditadamente desaparecer as suas características únicas, os sinais que o diferenciam de qualquer outro centro histórico ou envolvente pois assim tudo fica mais fácil à imbecilidade [o que é que isto quer dizer, a sério (“Reabilitar a Baixa tem valor cultural, enquanto património e económico, através do turismo e também do ponto de vista do crescimento pelo poder de arrasto nos outros setores”, afirmou. Agora, o que falta é “ter gente a dormir aqui”) – que paupérrima construção frásica].

incêndio 04

Em toda uma década e mais alguns meses, Rui Rio nada fez pelo Centro Histórico do Porto, porque ele não se ‘imPorta’. Para além de um “Plano de Gestão” que não serve para gerir coisa nenhuma, a não ser o tempo até o próximo apertão da UNESCO devido à falta de salvaguarda do CHP; e agora esta repentina lavagem de cara das ruas do “Eixo Mouzinho-Flores”, onde com um assinalável ‘novo-riquismo’ gasta 8 milhões de euros, nada mais tem para nos mostrar. No entanto, o grau de devastação tem sido exponencialmente maior.

palácio da bolsa

Com saudade relembramos o manifesto daquela noite fria de 4 para 5 de Dezembro de 2007, noite ímpar de luz e música, todos juntos numa praça, até parecia possível mudar o mundo:

Cidadãos de um Porto de liberdade, unidos em torno de uma causa da cidade, fazem a festa.

Centenas de cidadãos activos e mobilizados dando à cidade o seu esforço, contra o apagamento do seu Centro Histórico, trazem a música, a luz e a cor à Praça do Infante.

Uma festa de júbilo porque o Porto, reconhecido pela UNESCO como Património Mundial, não pode ser esquecido pelos portuenses, habitualmente distraídos pelo seu labutar de formigas laboriosas.

É um dia de celebração, de festa, e de alegria.

Tocam os sinos, cantam os músicos e falam os arautos.

É Inverno, fim da tarde e noite já fria da Baixa. Reúnem-se as tribos tripeiras das colinas e das margens para se juntarem no Infante e na Bolsa.

Unidos pelo desejo de praticar a Liberdade e a Cidadania, lavadas as pinturas de guerra, Cidadãos do Porto de todas as cores, de todas as idades, credos e profissões terão neste 4 de Dezembro a oportunidade de se exprimirem como SociedadeAberta que são, com alegria e reflexão sobre este bem insubstituível que é o nosso património urbano acumulado durante séculos.

Felizes são as cidades que como o Porto têm, porque souberam guardar, uma herança cultural construída pelo esforço de gerações e gerações.

Mais felizes ainda as poucas que entram na prestigiada lista da UNESCO.

Não podemos, cá, neste Porto que transportamos no nosso peito, deixar esquecer a exigente marca disputada e conquistada em 1996 na reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO, na Cidade de Mérida, no México.

Onze cidadãos que despertam e entendem que podem ser mais, muitos mais. Onze cidadãos do Porto, com alma do Porto, que decidem chamar as centenas e tocar os sinos a reunir.

Onze cidadãos que se multiplicaram e hoje fazem a festa para acordar as consciências e as vontades.

Um Porto assim, de gente que se importa com o carregar da memória do nosso passado para os séculos do futuro não é um Porto que se deixe mais adormecer.

Toca a reunir: das seis e meia às sete e meia nos Leões, na Sé, em Miragaia, na Ribeira e em Gaia; das oito às nove e meia no Infante e, depois, dentro da Bolsa.

Vale a pena lembrar a todos os que são de cá e a todos os que cá nos visitam que é por mérito próprio, pela qualidade do seu Património e pela força das suas gentes que o Centro Histórico da nossa cidade não pertence só a nós mas a toda a humanidade.

Enfermo, velhíssimo, sofrendo das patologias da idade e do abandono, o Centro Histórico do Porto resiste heroicamente às agressões das intempéries, às malfeitorias de muitos, ao desinteresse de outros, ao esquecimento e ao obscurantismo que procura embrulhá-lo, banalizá-lo e dissolvê-lo numa Baixa que é sua parte e sua protecção.

Os Cidadãos do Porto, Sociedade Aberta chamam o Porto ao Infante para aquecer esta noite fria com a sua alegria e a sua festa.

Cidadãos do Porto SA

Alexandre Burmester / Carlos Magno / Conceição Rios / Cristina Moreira / Francisco Rocha Antunes / Hélder Sousa / João Braz Pereira / Júlia Lourenço / Licínia Rangel / Luísa Barbosa Cardoso / Rui Loza

ribeira

nota: aqui fica o documento da autoria do Arq. Rui Loza, onde se pode consultar o programa da festa e a lista de individualidades e instituições que se associaram aos magníficos onze: [ 20071130-4dezembro1 ]

os desejos para 2013, por ssru

É habitual, em cada passagem de ano, deixarmos impressos no firmamento dos dias que virão, os desejos de um ano melhor que o anterior, horizontes de esperança, objectivos de conquista de riqueza, saúde, bem-estar, emprego, enfim, um mundo melhor. Nem que seja só para o ano que começa, pois no seu final provavelmente repetiremos os mesmos votos renovados.

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De todos os desejos para 2013, aquele que mais se destacou foi o da campanha da Samsung, que convidou um grupo de blogueiros de moda, para assim se anunciar. Aquilo que aconteceu trouxe à marca de electrónica uma visibilidade maior do que a própria campanha, pois mereceu a atenção de tantos e por tanto tempo, revoltados com o seu conteúdo desfocado da realidade portuguesa. Num País que valoriza assim o “fait-divers” remetendo-o para o mesmo patamar de importância do discurso do presidente da república ou do primeiro-ministro merece bem ser abanado do frenético transe em que mergulha e onde vai dirimindo a sua tarefa principal, a de cidadão. Mas o especialista em gestão de marcas Carlos Coelho, consultado pelo Expresso, resumiu desta forma o que se passou com a campanha da Samsung: “Sempre que uma marca quer pender para Deus faz asneira. Todas querem ser globais, estar em todo o lado. Serem amigas, conselheiras, demasiado próximas. Algumas delas chegam a dar-nos os parabéns. Ora, eu não quero que uma marca me dê os parabéns. Ou seja, os consumidores não gostam que as marcas pisem uma determinada fronteira das suas vidas”.

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Já o discurso do Presidente da Republica merecia mais atenção dos portugueses, entretidos com malas pretas e afins: “Na sua mensagem de ano novo, o presidente da República defendeu um ponto de vista diferente, afirmando que a economia portuguesa está numa “espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego”, que é urgente travar.”

O discurso do Primeiro-Ministro não lhe fica atrás em importância, algo sobre o qual nos deveríamos debruçar palavra por palavra durante este novo ano de 2013: “dirigiu-se a todos os portugueses que vivem dificuldades, dizendo-lhes: “Que consigam vislumbrar ao longo deste ano aquilo que se chama a luz ao fundo do túnel, quer dizer, o motivo de esperança para perceberem que nós não estamos a iniciar um ciclo vicioso de que não conseguimos sair, mas apenas a vislumbrar a saída de um período difícil que estamos a completar, porque outra forma não há senão passar por ele e resolver os problemas”. Pois!!!

De todos os desejos para 2013, elegemos estes que se seguem, não só porque não conseguiríamos dizer melhor como são tudo aquilo que pretendemos que fique dito.

Para 2013 quero que, por magia, todos os erros de má gestão pública das últimas décadas desapareçam. Para 2013 quero um país com todos os campos cultivados, todas as minas em funcionamento, as indústrias em expansão e os estaleiros cheios de encomendas. Vamos exportar muito e importar o suficiente.

Para 2013 quero ruas cheias de lojas abertas e os centros comerciais transformados em jardins. Para 2013 quero escolas e hospitais preocupados apenas com aqueles que cuidam. Para 2013 quero licenças de maternidade de 24 meses a dividir entre pai e mãe e licenças com vencimento para cuidarmos dos nossos velhos. Para 2013 quero infantários e centros de dia a funcionar juntos em edifícios recuperados. Para 2013 quero salários e reformas mínimas de 1500 euros.

E se a magia não for possível, para 2013 quero saúde. Quero que sejamos capazes de viver com o que temos e ajudar quem não tem o suficiente. Quero que sejamos capazes de lutar sem amargar. Quero que mantenhamos as utopias, os sonhos e os sorrisos.

Cá em casa vamos continuar a arrumar e a procurar o que não faz falta para dar ou vender. Vamos tentar baixar a conta da luz (porque é a única que ainda pode emagrecer). Vou aprender a cozinhar para que poupar não seja sinónimo de sofrimento à hora das refeições. Vamos fazer muitos  piqueniques com os amigos e passear pela cidade.

Vamos tentar não ficar doentes, não porque o outro senhor mandou mas porque é o melhor para nós. Vamos brincar muito e não deixar o mau humor sair vencedor. Vamos pedir desculpa e dizer obrigada. Vamos ser, todos os dias, um bocadinho mais felizes. É exactamente isso que desejo enquanto não aprendo a fazer magia.

Desejos para 2013, por Catarina Beato, 01/01/2013 | 10:31 | Dinheiro Vivo

praça e avenida

Desejamos que 2013 nos traga uma estratégia de reabilitação para o Centro Histórico do Porto e para toda a cidade. Desejamos que a Porto Vivo deixe de existir tal como agora é e que, definitivamente, consigam rodear-se de pessoas que sabem o que é reabilitação de um património inestimável, de toda a humanidade, de todos os portuenses.