o feriado municipal, por ssru

O nosso Presidente de/da Câmara, na sua infindável insensatez e beligerância, encontrou no gozo do Grande Feriado Municipal mais uma arma de arremesso contra o Governo. Diga-se em abono da verdade e a favor de Rui Rio, que também desta vez a “garotada de Lisboa” se pôs a jeito, alçando a nádega ao açoite, por ter feito um diploma de difícil aplicabilidade para… digamos… um autarca! Pois foi, só o nosso 1º é que viu onde mais ninguém foi capaz de ver, uma fagulha a arder na noite de santos populares, provocando “a desnecessária instabilidade e incerteza geradas por alguma precipitação de alguns decisores que assentam as suas posições num excessivo voluntarismo” [diz a Fesap].

Que em doze anos de sofrida gestão, tenham sido inúmeras as provas de que Rui Rio se esteve a “borrifar” para o Santo querido dos Portuenses, pois dele tem tantas outras razões para a abominação, até pelo facto de ser pobre e mal vestido, pois que ninguém tem dúvidas.

Que todos estes anos, tem estado entretido com corridas automóveis e são estas que aparecem nesta altura das festas populares em maior destaque, em vez do verdadeiro e popular motivo – o São João – também não restam dúvidas quanto a isso.

Que para esta comandita municipal as Festas Sanjoaninas se resumem a um passeio nocturno no Rio Douro, a bordo de um barco de mercador, embalado por um faustoso repasto e iluminado a fogo-de-artifício, estaremos também todos de acordo.

Daí a acusar o homem de ter acabado com o feriado municipal, também já é demais…!

  1. O diploma do Governo estabelece que o gozo do feriado pelos funcionários públicos está sujeito a autorização superior e que deve ser solicitada pelas câmaras. Não termina com os feriados municipais, apenas o condiciona e apenas aos funcionários públicos!
  2. O Presidente não decide o fim do feriado municipal pois essa competência é da Assembleia Municipal.

É que, em vez de dar tolerância de ponto devia ter solicitado ao Governo a legal autorização para o gozo do dia. Ou então pedia os necessários esclarecimentos à DGAEP, mas talvez isso já fosse mais difícil de engolir para um putativo PM. Ainda mais arriscado é justificar todos aqueles juristas internos e externos que tem disponíveis para o aconselhar a fazer estas tristes figuras…

Até as nossas críticas começam a ficar esquisitas, tão repetitivas e sobre os mesmos esquizofrénicos assuntos. Haja paciência.

Mas os portuenses e nortenhos é que não estão para brincadeiras e levam a festa muito a sério. Governos e executivos camarários vêm e vão, mas a festa continua a mesma, com ou sem feriado. Tradições de fazer jus à palavra, pequenos rituais que não terminam com uma idiotice de uns pacóvios engravatados, momentos de harmonia para quem tanto trabalha o ano inteiro e merece o conforto de um santo padroeiro, crendices para poder acreditar em algo, famílias inteiras à mesa. Tudo coisas que os janotas desconhecem, infelizes!

Deve ser por isso que insistem em oferecer um fogo-de-artifício ao som de música ‘pop’ em vez das tradicionais marchas sanjoaninas. Por vergonha, desinteresse ou ignorância…

… “Santo António já se acabou, o São Pedro está-se acabar, São João, São João, São João, dá cá um balão para eu brincar!”

a fome de francesinha, por ssru

A festa prometia e as expectativas eram altíssimas, pois finalmente a Baixa do Porto iria ter uma edição de um festival de francesinhas, a melhor “sanduíche” do mundo, nascida e criada aqui nesta Nação Portuense… mas esperam, não… parece que afinal já aconteceu em Setembro no edifício da Alfândega e também no Jardim do Cálem, adiante… mas esta é a primeira edição oficial pois é aquela que se tem que pagar o bilhete de entrada. Bom, avancemos na história!

Para quem adora francesinhas como nós, esfomeados que somos por elas, a salivar lá fomos à “Francesinha na Baixa”, um evento integrado no projecto “1ª Avenida” que tem a orientação da Porto Vivo e da Porto Lazer, organizado pela Essência do Vinho. Aliás, o evento estava muito bem organizado em matéria de marketing e visibilidade. Tanto que impeliu para a chuva e para o frio de Novembro milhares de pessoas com o único objectivo de comerem francesinhas e conviverem. Foi o que nós os quatro fizemos.

No recinto, a Praça de D. João I, estava montada a tenda (já conhecida de outros eventos) onde nos instalámos. Não sem antes ficarmos um pouco à deriva com a falta de sinalética ou alguém que indicasse os passos a dar: primeira paragem – comprar o bilhete de 2€ que dava direito a uma bebida; de seguida – pré-pagar num guichete a comida e restantes iguarias, escolhendo o restaurante desejado; depois – dirigir ao balcão do tal restaurante e pedir a encomenda paga; por fim – marchar até à mesa e dar ao dente. Tudo isto em pouco mais de meia hora, ao som de uma música abrasileirada tocada por um senhor com ar infeliz. O brinde final foi um aroma intenso a comida, impregnado em todas as peças de vestuário que trazíamos.

foto de paulo ricca @ fugas – público

Mas a moral da história não tem nada a ver com isto que acabamos de escrever, nem com a escolha dos restaurantes convidados, nem com a cerveja não saber tão bem com o frio, ou com a loiça toda de plástico, ou a falta de condições de higiene dos sanitários, nem com o facto da Porto Vivo, uma sociedade de reabilitação urbana, estar envolvida neste projecto folclórico chamado “1ª Avenida”, que gasta milhares de euros num gabinete que não existe e num site ainda por fazer, nem quando ainda hoje se sabe através daquele jovem do PS, que o Dr. Rui Moreira vai deixar a SRU e que aquilo está em ponto de caramelo para fechar. Esqueçam tudo isso…

foto de nelson garrido @ fugas – público

Estávamos a desfrutar as primeiras garfadas, enrolando a linguiça com o pão no molho e o queijo derretido, quando um de nós, capaz de estragar a festa, diz:

“- Imaginem que por uma cósmica ironia, ou um esquisito alinhamento de vontades, metade daqueles dois euros de cada entrada era oferecido a uma instituição que minorasse a fome que existe no estômago de 10.000 das nossas crianças, portugueses do século XXI! Isso é que era!!!”

a tradição da festa, por ssru

Na semana passada o JPN apresentou um artigo em vídeo que colocava quatro perguntas, aparentemente simples, a cidadãos de diferentes idades e sexos, que passavam na Avenida dos Aliados. As respostas foram confrangedoras…

1. Quem foi S. João Baptista? 2. Há quanto tempo é comemorado o S. João do Porto? 3. Porque é no dia 24 de Junho? 4. O que significa o manjerico? – parecem ser perguntas fáceis de responder, mas a verdade é que quase ninguém consegue sequer articular uma ideia sobre o assunto. Intrigados, fizemos exactamente o mesmo teste ao nosso grupo de amigos, colegas e vizinhos. É verdadeiramente arrasador!!!

Abatidos, catalogamos este episódio na pasta “crise de valores”, por julgarmos que é lá o seu melhor lugar. A ignorância de um povo sobre a sua herança, ou grande parte dela, não é um assunto inócuo, mas uma grave questão de Sobrevivência, de Identidade, de Futuro. Fomos à procura das mais simples e sábias respostas para vos brindar e foi muito fácil encontrá-las. De imediato percebemos que para nós, portuenses, o S. João não é só um feriado municipal, mas muito mais do que isso. Reparem!

Esta interactiva “Viagem pelo S. João no Porto, por Germano Silva”, ilustra bem a simplicidade, a eficácia e a quantidade certa de informação que é possível transmitir mantendo viva a tradição, a identidade e a memória de uma população. O Jornal de Notícias foi ainda mais longe e elaborou um “Especial” dedicado à festa que tem ajudado a manter, ao santo padroeiro que ninguém quer esquecer.

Na verdade, para manter esta festa e este santo bem vivo no coração dos portuenses não é necessário fazer grande coisa. Basta deixar a gente desta terra festejar à vontade, com o civismo e a solidariedade que sempre a caracterizou. Acreditamos até que todas as tentativas de institucionalizar os festejos, geraram um movimento oposto de libertação, com mais ou menos ideologia, mas sempre folgazão. A festa pode mudar com os Tempos, mas a sua história não pode ser esquecida.

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E mal seria que este ano não houvessem reparos a fazer e (para além da insignificante dessincronização musical das duas ribeiras, na hora do foguetório) dois haverá a assinalar:

1. Cada vez se compreende menos o papel da RTP nestes festejos. Se em anos anteriores não se sentiu a estranheza da sua presença, este ano revelou-se incompreensível a escolha logística, a colocação do Palco – de costas para a assistência, a posição e tamanho do ‘gueto’ das câmaras de filmar, a parafernália de veículos estacionados no Cais da Estiva, etc. Muito nos admiramos como foi possível os responsáveis municipais pela segurança e protecção civil, terem permitido aquelas bolsas de espaços sem saída e cheias de pessoas que não conseguiam de lá sair. Lamentável. Pura sorte!

2. A forma ostensiva como é mostrado o costumeiro Passeio Fluvial da comitiva municipal e demais convivas, no site da CMP, neste período de austeridade como o que actualmente vivemos, pareceu-nos perfeitamente desnecessário. Não nos interessa quem é que pagou a festa, se foi a Câmara ou se foi o dono do grande barco, até porque o Governo também não paga bilhetes na TAP mas decidiu, bem, dar o exemplo e viajar em classe económica para Bruxelas. Deve ser este, mais um sintoma de rigor e seriedade. Porque de solidariedade, com as atitudes do Governo do mesmo Partido, é que não parece ser… O problema aqui é a ostentação e, já agora, a falta de proximidade dos eleitos com os eleitores, ao contrário do que aconteceu no [tão criticado] lado de lá!

o fôlego do santo, por ssru

S. João, eremita natural do Porto que viveu no século IX, é um corredor de fundo, tal como os tripeiros que o veneram, elegendo-o a santo padroeiro. Através dos tempos o povo tem dedicado forte devoção e grandes festas, mantendo-se ainda hoje viva a tradição das fogueiras de S. João de origem muito antiga, substituindo-se assim as festas pagãs do solstício. Os festejos na cidade são já seculares e a origem desta tradição cristã remonta a tempos milenares, mas apenas no século passado é que o dia 24 de Junho passou a feriado municipal proporcionando um dia de merecida folia a milhares de tripeiros e visitantes.

Apesar das mudanças e modernizações a que a celebração tem sido sujeita ainda é possível manter muita da tradição: no alho porro, nas barracas que vendem o manjerico, as tendas das fogaças, a sardinha assada e o vinho, as farturas e o algodão doce, as tendas das loiças e das cutelarias, os matraquilhos e os carroceis, os balões e o fogo de artifício.

Há alguns anos atrás as festas estavam limitadas ao centro da cidade, situando-se as Fontainhas no centro geográfico, marcando o percurso pela Rua de Alexandre Herculano, a Praça da Batalha, Rua de Santa Catarina, Passos Manuel, Formosa ou Sá da Bandeira e ainda Praça da Liberdade, Avenida dos Aliados, Praça da República, Praça de Lisboa, Rua dos Clérigos e 31 de Janeiro. Mas as Fontainhas perderam muito do seu encanto desde que lhe espetaram os pilares da ponte no seu seio, dando-lhe aquele aspecto suburbano. Hoje em dia as festas encontram-se espalhadas por toda a cidade, da Ribeira à Foz, na Boavista, em discotecas e em viagem de barco pelo Rio Douro.

Uma das expressões culturais mais apreciadas no S. João são as tradicionais rusgas (não são marchas), que consistem no desfile pelas ruas de grupos de foliões trajados a rigor, interpretando os melhores temas sanjoaninos. Dispensam os carros alegóricos e não requerem muita luz, para dar o ambiente certo. Apenas os arcos, os balões e um grande número de outros adereços, que fazem o encanto de milhares de visitantes. Este ano reuniram-se na Batalha e desceram a Rua de Passos Manuel até a Avenida dos Aliados onde foram recebidos por uma “cascata de contentores” da finada Feira do Livro.

Para um tripeiro não é fácil assistir a um cenário destes. A vergonha e a falta de dignidade mancham os melhores dias de folia, de que bem precisa para fazer frente a uma luta diária de privações. Ainda no ano passado a Avenida foi palco de um feliz bailarico antes e depois do fogo de artifício da Ribeira.

Os ataques aos valores culturais dos portuenses têm sido uma constante e este ano culminaram com uma Avenida dos Aliados a parecer um estaleiro em obras, encimada com um “fan park” (?), razão pela qual não se realizou a habitual cascata sanjoanina, ali aos pés de Garrett.

Ainda confuso, o verdadeiro tripeiro, resistente fundista, lê as notícias e fica sem saber o que pensar quando lhe anunciam que se pretende tornar o S. João numa marca a exportar. Estará tudo grosso ou já não há a mínima decência…

a festa popular, por ssru

As vizinhas mais idosas dizem-nos que a ‘festa do santo’ já teve melhores dias, era um verdadeiro arraial do Povo. Dizem-no de boca cheia, mão no peito e um brilho de tristeza no olho.

Os festejos do nosso passado mais longínquo incluíam uma jogatina de futebol pela manhã entre clubes rivais, logo seguida do almoço montado na rua perfumada a sardinha e pimentos assados.

À tarde os ranchos folclóricos enchiam as ruas de música e dança, toda a gente dançava, até os padres e os políticos, os novos e velhos, homens e mulheres, mulheres e mulheres, crianças, todos.

Na Rua Arménia assistíamos a um jogo de cartas ou bilhar e havia uma peça de teatro no ‘S. Pedro de Miragaia’ e a festa não parava, comíamos aqui e ali, em todo o lado havia um fogareiro a assar e vizinhos a cantar alto.

Não ligamos tanto a este palco onde nos presenteiam a Ana Malhoa e a Mónica Sintra, e ‘aquelas coisas’ brasileiras que nada têm de são-joanino.

popular-01O fogo de artifício, esse é sempre bonito, mesmo quando passou a ser barómetro político e motivo de disputa entre cidades irmãs.

popular-02É verdade que já vimos famílias inteiras a subir e descer as ruas, de alho-porro na mão a provocar o nariz e o pescoço de quem cruza num e noutro sentido.

Mas a festa também é do alecrim e das fogueiras feitas para saltar de bairro em bairro, do balão acesso no ar, das rusgas, das cascatas (as verdadeiras) e dos banhos de mar ao nascer do dia.

O Porto nunca virou as costas a uma boa festa nem a uma boa briga.

No meio deste colorido pagão e agora que o S. João já se acabou, gostaríamos de vos falar de um desses gestos simples que mudam muita coisa, esses de que falamos de vez em quando e que custam relativamente pouco, mas que significam uma imensidão na vida das pessoas, capaz de perdurar por muito tempo.

Algo tão simples como o rosto estampado numa bandeirola, a enfeitar as ruas, quatro ou cinco ruas, muitos rostos de quem mora ou trabalha no coração da cidade e que abre a porta desconfiada, mas pronta a confiar…

Uma ovação em pé para a Dra. Ana Neto e a sua equipa, que soube tocar, não na vaidade, mas no orgulho e identidade das pessoas e fazê-las participar enquanto comunidade, num festejo de todos. Dá vontade a qualquer um de pertencer àquela rua e participar.

Lemos no artigo do JN: “(…)Era preciso conhecer as pessoas, convencê-las a cederem uma fotografia ou a serem retratadas para figurar em bandeirinhas de S. João que seriam colocadas nas ruas da Fonte Taurina e da Reboleira (na Ribeira) nas Galerias de Paris e Cândido dos Reis (aos Clérigos) e na Rua das Flores (entre o Largo de S. Domingos e a Fundação da Juventude). Inicialmente, pensaram em concentrar todas as fotografias dos moradores da Ribeira em apenas uma artéria, mas ninguém quis figurar na rua do vizinho. “Avisaram-me logo: eu? nessa rua, nem pensar”, conta Ana, rindo das dificuldades que iam surgindo. “Foram dois meses de contactos diários na Ribeira”. Mas depois da dona Odete, a gestora do projecto conheceu a dona Conceição, o Nando, o Naná, o Inácio, o sr. José e por aí fora. A ideia foi ganhando forma e, de repente, já tinham duas mil fotografias para tratar, imprimir em acetato, agrafar às bandeirinhas e pendurar nas ruas (…)”

O que fica deste pequeno gesto, que portas abriu, que continuidade se poderá dar a este tipo de projectos? Perguntas que a cidade poderia responder…