o inútil excesso, por ssru

Excesso insuportável de palavras inúteis, por PEDRO TADEU (DN)

«Uma mulher rodeada por quilómetros de terra, lama, pedra e destroços tenta, com um pequeno ramo de árvore, desenterrar qualquer coisa minúscula no lodaçal. Um monte de automóveis desfeitos, empoleirado numa pilha de troncos e barro, ameaça desabar sobre o telhado vermelho de um edifício. Um cão busca, por debaixo de uma montanha de escombros, o odor de um cadáver. Uma tromba avassaladora de líquido castanho corre, desabrida, por uma viela. É um gigante Adamastor que tudo destrói, em luta por espaço e mais espaço e mais espaço. Há falta de proporções humanas nos cataclismos dos dias de hoje.

Um miúdo de galochas e camisola interior contempla, plácido, sentado num tijolo, a persiana daquele que há minutos era o seu quarto. A janela espreita cá para fora, como um olho improvável, que a casa está lá em baixo, soterrada. Um corpo escondido por um lençol branco é levado sem vida, sem cor, numa maca carregada por bombeiros de capacete garrido, amarelo. Um braço estendido tira das águas revoltas um homem que luta contra o afogamento. Há excesso de imagens comoventes nas tragédias dos dias de hoje.

Procuramos sempre culpados. Antigamente era a fúria divina provocada pela nossa suposta vida licensiosa. Agora, que Deus já não tem fúrias e os pecados da carne são uma irrelevância moral, racionalizamos a hecatombe com a denuncia do pecado da imprevidência: sofremos, morremos, perdemos o que conquistámos à vida porque construímos onde não devemos, porque manipulamos a natureza a golpes de toneladas de betão e ferro, porque desafiamos o clima com agressões de fumo, gasolina e CO2. Há excesso de má consciência na civilização tecnológica dos dias de hoje.

Esquecemos a trica política. Guardamos o rancor para outro dia. Abraçamos o maior inimigo. Prometemos corrigir os erros do passado. Inventamos actos solidários de homenagem aos que foram embora. Destinamos milhões para pagar prejuízos. E vamos à missa. Há excesso de rituais normalizados nos dias políticos de hoje.

Nada há para dizer e, no entanto, ninguém pára de falar. Falou o Presidente. Falou o primeiro-ministro. Falou o líder do Governo Regional da Madeira. Falou o ministro. Falou o homem da Protecção Civil. Falou o comandante dos bombeiros. Falou o comentador profissional. E os jornalistas não se calam, horas e horas e horas a fio. Há demasiadas palavras inúteis na linguagem destes tempos que correm.

Maldita profissão esta, que me obriga, sem respeito pela morte, a somar as minhas palavras, mais palavras inúteis, ao ruído insuportável que me cerca…»

nota: Apenas para referir que o sublinhado do texto é nosso e que a fotografia é do JNonline. Só isso, nem mais uma palavra a acrescentar…

a feira nova, por ssru

A Praça Nova está, mais uma vez, transformada num recinto de feira de província. Os carrosséis com a sua chinfrineira habitual, as tendas do pão doce e as “roulotes” das farturas com os odores tão característicos, os espectáculos brejeiros de encher o olho, mais pelas dançarinas do que por outros dotes que concorram à atenção dos espectadores e uma inovação, com poucos anos, nas feiras novas – os insufláveis coloridos, que fazem os prazeres da pequenada.

A Avenida dos Aliados, centro cívico da cidade, templo da nossa civilidade ocupado por vendilhões, quando tantos locais bem mais indicados serviriam de pouso para mais uma sodomia.

Não cremos que seja propositado, que este executivo faça tudo isto só para nos humilhar e agradar às cortes de Lisboa (não vamos por aí), achamos que é mesmo por ignorância e falta de sensibilidade, de DIGNIDADE.

Viva o Carnaval, que quando nasce é para todos…

E hoje que é ‘Dia dos Namorados’, podemos levar os nossos pares a dar uma volta naquele cisne ou no carro dos bombeiros, delícia suprema…